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Os junquilhos
Foi quando em Rabat apareceram os junquilhos.
Em Lisboa, não sei por que razão, desapareceram dos cestos das floristas há já alguns anos, essas flores brancas que sempre comprava, e que entre Dezembro e Janeiro invadiam a casa com um odor tão forte que toda a gente protestava. Talvez por causa do cheiro peculiar tivessem deixado de aparecer. Só sei que as procurei ano após ano e, finalmente, desisti.
Em Marrocos descobri-os primeiro no campo, um aqui, outro ali, e senti uma alegria incrédula, uma espécie de milagre: os junquilhos! desaparecidos de Portugal, aparecidos em Marrocos. Apanhei alguns, eram as mesmas flores, iguais em toda a parte, o cheiro inconfundível; o irmão de Hind, vendo que eu gostava, apanhou uma florinha e ofereceu-ma.
Em Rabat, um velho vendia-os no meio de outras. Os ramos dos junquilhos eram grandes, fartos como nunca tinha visto. Perguntei quanto custava, e ele, vendo o meu interesse, cobrou um preço alto, sem um sorriso. Apressei o passo para ir ter com os meus companheiros. Dividi o ramo: metade para mim, metade para Hind. A metade que guardei ficou a empestar o quarto de hotel para grande felicidade minha. Com o passar dos dias, o cheiro ficou tão intenso que eu tive medo de que as empregadas da limpeza o deitassem fora ou que algum sistema anti-cheiro começasse a disparar. J. não deu por nada.
…
Os junquilhos
Milagrosamente, em Portugal recuperei os junquilhos. Depois de tanto os ter procurado em Lisboa sem os encontrar,; depois de os ter reencontrado em Marrocos, no campo e na cidade e os ter novamente deixado, vi-os a florescer aqui no campo. J. já mo tinha dito em Marrocos, “lá também há,” mas eu não acreditei, tão improvável me pareceu. Desapareciam-me da vista anos a fio e apareciam agora, por obra e graça do acaso, em todo o lado? É só apanhá-los. Apanhá-los às mãos cheias. Tantos, que se eu quisesse, podia agora transformar-me na florista que volta a introduzi-los no mercado. Mas enquanto esse futuro romanesco não chega, limito-me a colhê-los e a depositá-los em jarras. Voltei a ouvir: “que cheiro esquisito é este?” Já tinha saudades da pergunta, faz-me sentir bem…”
Monteiro,Sara, Marrocos a preto e branco, in Manga Ancha nº2
Os junquilhos
Foi quando em Rabat apareceram os junquilhos.
Em Lisboa, não sei por que razão, desapareceram dos cestos das floristas há já alguns anos, essas flores brancas que sempre comprava, e que entre Dezembro e Janeiro invadiam a casa com um odor tão forte que toda a gente protestava. Talvez por causa do cheiro peculiar tivessem deixado de aparecer. Só sei que as procurei ano após ano e, finalmente, desisti.
Em Marrocos descobri-os primeiro no campo, um aqui, outro ali, e senti uma alegria incrédula, uma espécie de milagre: os junquilhos! desaparecidos de Portugal, aparecidos em Marrocos. Apanhei alguns, eram as mesmas flores, iguais em toda a parte, o cheiro inconfundível; o irmão de Hind, vendo que eu gostava, apanhou uma florinha e ofereceu-ma.
Em Rabat, um velho vendia-os no meio de outras. Os ramos dos junquilhos eram grandes, fartos como nunca tinha visto. Perguntei quanto custava, e ele, vendo o meu interesse, cobrou um preço alto, sem um sorriso. Apressei o passo para ir ter com os meus companheiros. Dividi o ramo: metade para mim, metade para Hind. A metade que guardei ficou a empestar o quarto de hotel para grande felicidade minha. Com o passar dos dias, o cheiro ficou tão intenso que eu tive medo de que as empregadas da limpeza o deitassem fora ou que algum sistema anti-cheiro começasse a disparar. J. não deu por nada.
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Os junquilhos
Milagrosamente, em Portugal recuperei os junquilhos. Depois de tanto os ter procurado em Lisboa sem os encontrar,; depois de os ter reencontrado em Marrocos, no campo e na cidade e os ter novamente deixado, vi-os a florescer aqui no campo. J. já mo tinha dito em Marrocos, “lá também há,” mas eu não acreditei, tão improvável me pareceu. Desapareciam-me da vista anos a fio e apareciam agora, por obra e graça do acaso, em todo o lado? É só apanhá-los. Apanhá-los às mãos cheias. Tantos, que se eu quisesse, podia agora transformar-me na florista que volta a introduzi-los no mercado. Mas enquanto esse futuro romanesco não chega, limito-me a colhê-los e a depositá-los em jarras. Voltei a ouvir: “que cheiro esquisito é este?” Já tinha saudades da pergunta, faz-me sentir bem…”
Monteiro,Sara, Marrocos a preto e branco, in Manga Ancha nº2
5 comentarios:
Os junquilhos que conheço costumam florescer em meados do mês de agosto.Delicados e perfumadíssimos aparecem nos jardins nostálgicos,debaixo de árvores,nas frestas das calçadas abandonadas.Talves esta característica os faça poéticamente lindos por nos remeterem a doces lembranças,tardes enternecedoras,quietas aldeias povoadas de gente simples,embaladas aos zumbidos perenes de abelhas dispersas entre canteiros das casas das "nonas" italianas,ladeados de tijolos sobrepostos.Lembram a leveza das môças do Sul do Paraná com seus olhares azulados,cabelos cor de mel e aromas inesquecíveis dos junquilhos de m/infância espalhados pelo ar.
Anónimo(a), que comentario tan lírico, tan lindo. Qué zumbidito tan cálido en esta tarde tan fría. Muchas gracias
Antonio,fico imensamente grato por teu elogio sobre o comentário que fiz.Adoro junquilhos,são meus inspiradores em alguns textos que publico no site www.recantodasletras.com.br na página de "Iratiense Joel Gomes Teixeira",ficarei agradecido se visitar a minha página.Dou-lhe a seguir uma amostra do que penso sobre junquilhos:
VISÕES DE AGOSTO "I"
Os primeiros junquilhos do mês de agosto
Abriram-se para os jardins de "Angelina"
A primeira visão aos olhos da nona
Fez bater bem mais forte o coração italiano
Ensaia um louvor...Um abraço ao céu!...
Levantam-se os braços,se ergue a voz...
"Dio mio!...Ma que belo!"...
E toma os junquiçhos por entre as mãos
Da varanda "Judith" a cena aprecia...
Azul o vestido,de ouro os cabelos,no verde dos olhos faíscam estrelas!...
Quermesse na aldeia...Reluz a igrejinha
Araucárias filtrando ecos de acordeon
"Judith" está pronta a ir à quermesse...
Lhe prende a nona,atrás da orelha
Precoces junquilhos de um agosto distante...
O vento baçança azul e dourado
Na tarde festiva que ao sol incendeia
E a môça bonita em passos altivos
Espalha seu cheiro na estrada da aldeia
joelgomesteixeira@hotmail.com
Joel,
ya anduve por su Recanto das Letras, volveré, hay mucha para leer.
Un saludo
antónio
Eu tenho junquilhos no meu jardim em Cascais, desde há muitos anos. Ainda hoje estive a aspirar o seu perfume.
Os junquilhos florescem no Outono/Inverno. Não confundir junquilhos com narcisos. O narciso tem uma só flor por cada pé, enquanto os junquilhos têm várias flores no mesmo pé e têm um cheiro muito intenso.
http://ocheirodailha.blogspot.com/2008/12/junquilhos.html
Cumprimentos,
A.B.
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